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domingo, 29 de março de 2015

VALE DO CATIMBAU - Márcio Dumel




Um lugar mágico, denominado pelos índios como lugar dos encantamentos...  Formações Geológicas, Cavernas com inscrições  Rupestres, Caatinga, Reserva Indígena e o povo simples  do sertão...


Depressão do Vale do Catimbau

Vale do Catimbau é uma extensa área no Semiárido do estado de Pernambuco , abrangendo vários municípios: Buíque, Ibimirim, Tupanatinga e Inajá,  a menor porção pertence a Buíque, onde é a parte mais explorada, até mesmo pela infraestrutura da cidade. O Vale do Catimbau é ocupado por um Parque Nacional (ICMBIO),  uma Reserva Indígena e  Municípios. As fronteiras estão virtualmente estabelecidas, mas ainda existem áreas em questão e que não foram desapropriadas pelo governo federal. Anos se passaram da formação do Parque e não existe um Plano de manejo e um Conselho Gestor das APAS (Área de Proteção Ambiental) que garantiriam a preservação e a legalidade das atividades ecoturísticas  proposta. Infelizmente são detectadas  atividades agrícolas, pecuárias e de extração de lenha dentro do Parque, colocando sempre em risco o bioma de caatinga que felizmente ainda se mantém em suas condições originais.



ASPECTOS GEOLÓGICOS



 Bacias sedimentares são grandes depressões naturais (subsidência) preenchidas por sedimentos, carreados das partes mais altas que vão se concentrando e compactando nas partes mais baixas, ao longo de milhões de anos. O  Catimbau faz parte da bacia sedimentar Tucano-Jatobá. Dependendo da origem dos detritos acumulados, os materiais subjacentes de algumas bacias sedimentares ocasionalmente podem gerar petróleo ou se transformar em uma grande reserva de água subterrânea (aquífero). As Formações sedimentares Tacaratu e Inajá que ocupam boa parte do Parque Nacional  do Catimbau (CPRM/CNEN,72-73-Silvo Junior, 97) possuem bom potencial aquífero aluvial e subterrâneo (Mello, 1980, Leite et al,) mas são poucas as pesquisas quanto ao aquífero.

Água da bica boa e perene direto da nascente... Faltam  Projetos de saneamento...



... e Distribuição

Por baixo do material sedimentar está o embasamento granítico (rocha magmática) e gnáissico (rocha metamórfica), são intrusões muito antigas do Pré-Cambriano, que ao serem expostas, no passado geológico, sofreram forte intemperismo e erosão. Esses processos intempéricos deram como resultados, após um longo hiato de tempo, os pacotes sedimentares Tacaratu (400 metros) e Inajá (55 metros), que são do período devoniano (400 milhões de anos atrás) idades difícil até de mensurar... Foi um período em que os continentes ainda estavam unidos em um só bloco, e  o oceano atlântico nem sonhava de existir. Essas feições sedimentares que atualmente observamos, também estão em transformação... Porque faz parte da dinâmica das paisagens naturais, que são ciclos repetitivos que associados a fatores endógenos (tectônicos) são elementos construtores e destruidores do relevo e da paisagem...

Solo da Região próxima da Serra de Jerusalém, em cotas altimétricas aproximada dos 1000 metros, no conglomerado arenítico observa-se  Oxido de ferro ( avermelhado e amarelado) pedregulhos e grãos de quartzo.

Geralmente as bacias sedimentares tem o predomínio de relevo de “cuesta”, isto é, serras formadas por um declive suave numa face (reverso) e na outra uma vertente abrupta muito íngreme (front). Na parte frontal das vertentes são observados vários picos isolados que são os “morros testemunhos”, antigos prolongamentos dessas formações.

Morros testemunhos ao fundo e a presença de oxidos de ferro
Os pontos mais altos da Serra do Catimbau passam dos mil metros de altitude, é onde o sertão tem as temperaturas mais agradáveis. Em algumas áreas podem chegar aos 12° C no inverno, e a temperatura média anual é de 23° C. A variação de altitude de relevo forma vários  microclimas e espécies  de botânica podem ocorrer em um relevo mais  alto e não ocorrer na depressão do vale. Foram inventariadas várias espécies endêmicas:  vegetais , meliponídeos (abelhas) (Schindwei & Moura, 2015) e Amphisbaena  que é  uma espécie de serpente que aparenta ter duas cabeças...   Imaginem: Uma cobra com uma cabeça já é um sinal de alerta,  quanto mais com duas cabeças... na verdade são completamente inofensivas quanto a peçonha..

Maribondo e o fruto da Cactácea



 CAATINGA
Caatinga é uma vegetação genuinamente brasileira, totalmente limitada ao território nacional. Quem não a conhece não tem ideia da sua riqueza de detalhes, diversidade e com muitas espécies únicas. Tem um valor relevante para o sertanejo e principalmente para os povos indígenas da região, que é quem dela se utiliza, coletando folhas e raizes para suas práticas medicinais e rituais.


Mata de Caatinga e solo arenoso
"O aroma  da caatinga é o cheiro do sertão, é de mato seco, é de raiz almiscarada, é de madeira curtida pelo sol, perfumada e doce como flor de quixabeira... Porém, todo cuidado é pouco... porque a caatinga também machuca: xique-xique, mandacaru, macambira e urtiga... são pra serem apreciados e não tocados..."

 Caatinga


Inflorescência

Caatinga e Morro do Chapéu ao fundo



INSCRIÇÕES RUPESTRES

Segundo pesquisas do arqueólogo Marcos Albuquerque da UFPE,  os antigos povos indígenas ocuparam a área por volta de  6000 (a.p.). Na região havia outro clima, a paisagem era exuberante, água em abundância, muita caça e boas cavernas para se abrigarem e muita oferta de pigmentos coloridos para o registro nas paredes das cavernas, formados pela oxidação natural das rochas. Existem centenas de cavernas com pinturas rupestres espalhadas pela região e boa parte desses sítios arqueológicos não estão catalogados,  até porque muitos se encontram em Terras Indígenas. A principal caverna para  visitação fica no povoado de Alcobaça, onde Cida ( Monitora do Icmbio) faz a condução dos visitantes e a guarda do patrimônio arqueológico e ambiental.



Sítio arqueológico de Alcobaça




Posto de Vigilância do Icmbio



TERRAS INDÍGENAS


 Os Índios dessa região sempre viveram em luta pela posse de suas  terras, expropriadas desde à época do Brasil Império. Ao longo do tempo com a dispersão e miscigenação  passaram a se denominar  “caboclos”, suas terras foram invadidas por posseiros, os conflitos eram constantes  e até a igreja Católica se apropriou e vendeu terras indígenas (IndiosTruká)... No sertão não se reconhecia a propriedade indígena, até porque muitos haviam perdido parte de sua identidade étnica e particularmente os índios Kapinawá que eram de uma etnia desconhecida perante o governo e que causava desconfiança quanto a sua autenticidade... Os “caboclos” na verdade eram   herdeiros de uma cultura ancestral   perdida no tempo e que precisavam resgatá-la  e ter o reconhecimento da FUNAI e posteriormente  acesso as políticas públicas voltadas para os índios, inclusive o direito de posse das terras... Na região do Catimbau depois de alguns avanços e desentendimentos entre os próprios Caciques, o Governo Federal sancionou a reserva, retirou e  indenizou os posseiros,  porém a área delimitada não contemplou  toda a demanda indígena local, devido as politicagens entre eles mesmos...  147 famílias ficaram  fora da demarcação porque não estavam aldeados, incluindo aí também os Quilombolas... Essas famílias viveram tranquilas até o ano 2000, quando o Governo Federal classificou o Vale do Catimbau como área de interesse Público e o transformou  em uma Unidade de Conservação (UC). A  poligonal do Parque faz fronteira com as terras indígenas e muitas famílias ficaram dentro da perimetral da Unidade de Conservação... Infelizmente, de concreto até agora apenas a endêmica lentidão dos processos de reconhecimento e demarcação de terras...


Jovem do Catimbau - estuda no município de Arcoverde e passa finais de semana com os pais.


Abrigo Indígena - ocupação por volta de 6000 anos atrás


Abrigo indígena 






         QUILOMBOLAS




Anciã Quilombola... 




Acesso ao Povoado Quilombola da Serra do Catimbau 


Sr. Nelson   liderança Quilombola


 Criança Quilombola albina

Povoado Quilombola dentro do perímetro do Parque Nacional do Catimbau



Vista parcial do Povoado Quilombola




VILA DO CATIMBAU


É um pequeno distrito de Buíque, com pouca estrutura, é o entreposto das terras indígenas e a sede do município. Grande parte da população são índios Kapinawa. A vila conta com três pousadas, incluindo a Pousada de Dona Zefinha que é bem pitoresca.

Na Vila do Catimbau boa parte dos moradores são índios Kapinawás




ONDE FICAR

 BUÍQUE fica apenas 285 km do Recife,  é um nome indígena que significa “lugar das cobras”, A cidade tem boa estrutura, restaurantes, pizzarias, sorveterias e um item importante que é  hospedagem. Tivemos a oportunidade de visitar  e se hospedar  em algumas  pousadas  e levando em conta custo/benefício, a Pousada Santos é a melhor opção com Bons apartamentos, ar condicionado, ducha quente e wifi. Amplo refeitório, excelente  café da manhã regional e dedicação dos funcionários no atendimento... E fica próxima ao Parque Nacional do Vale do Catimbau (12 Quilômetros)...


Pousada Santos


APETRECHOS DE VIAGEM

·        Botas de trilha ou tênis, protetor solar, calça pra andar na caatinga, óculos de   sol, maquina fotográfica, gopro etc...
·         Geralmente à noite faz frio, é bom levar um bom casaco!
·         Barra de cereais, Cantil com água.
·         Não esquecer medicamentos, se por acaso faz uso.

Obs: Rapadura é um excelente energético e muito abundante na região.

Fernando realizando uma demonstração com o Drone


Nossos Guias Mirins

Morro do Chapéu






CONTATO








terça-feira, 26 de novembro de 2013

FERNANDO DE NORONHA - SISTEMA VIÁRIO SÉCULO XVIII - por Márcio Dumel



Em Fernando de Noronha é possível caminhar por estradas seculares, construídas à partir do ano de 1737 -  hoje são estradas abandonadas, porém com muitos trechos ainda com calçamento original... Essas vias interligavam todo o sistema defensivo espalhados pela ilha...  Foram estradas bem planejadas, quase que totalmente planas, apesar da ilha ser montanhosa... caminhar por essas estradas seculares encontram-se poucas ladeiras, as estradas foram construídas em curva de nível, contornando as montanhas... Era um planejamento que atendia bem as necessidades defensivas  da ilha... já que os veículos eram movidos por tração animal...  Na época, o importante era ter uma certa mobilidade na hora de abastecer as fortificações com víveres e munição.

Vila dos Remédios, termina o asfalto e começam as vias seculares
Estrada que dá acesso ao Jardim Elizabeth, local em que os holandeses faziam aclimatação de vegetais no século XVII

Início da rua da Estrela e ruínas de edificações holandesa do séc. XVII - infelizmente tudo em estado de abandono.








Rua da Estrela - Trilha que começa ao lado do Palácio São miguel na Vila dos Remédios, segue até o forte São João Baptista dos Dois Irmãos no alto da falésia da baía dos Porcos




  • Detalhes de uma edificação portuguesa do século XVIII  e os diferentes materias usados na construção: *fonolitos, *calcarenitos, *glemuíritos, *tijolos de barro.
Vila dos Remédios "setecentista" e Canhões da segunda guerra mundial 




Pouco mais de cem anos, após a saída dos holandeses do arquipélago de Fernando de Noronha, os franceses, na sua terceira tentativa de posse aos territórios portugueses (Noronha era um território ultramarino português), sob o comando do Capitão Lesquels desembarcaram em Fernando de Noronha com intenção de construir um ponto de apoio para os navios da Companhia francesa das Índias ocidentais, um consórcio do governo francês e  grandes investidores.  Como já imaginavam e constataram... A ilha estava abandonada e logo foi batizada de "Ile Dauphine". A ocupação logrou êxito por pouco mais de um ano, depois foram expulsos pelos portugueses e pernambucanos. A coroa portuguesa resolveu ocupar a ilha (1737), construir um sistema defensivo com dez fortificações, instaladas nos principais pontos de desembarque...  O responsável pelo grandioso projeto foi o especialista português Diogo da Silveira Veloso também incluía um sistema viário interligando todas as fortificações e vilas... Para colonizar e ter  mão-de-obra para tantas construções, a ilha foi transformada em colônia correcional, ativa até 1938.


Paiol de pólvora da Fortaleza Nossa senhora dos remédios, posteriormente foi transformado em cela.

No imaginário dos antigos colonizadores da ilha o "Pico" era uma figura misteriosa... envolvida em muitas lendas.

Pátio da Fortaleza dos Remédios


Via Secular


Ruínas do Forte Santo Antonio

Ruínas de um dos três núcleos carcerários "Aldeia dos Sentenciados", este algum tempo depois acolheu mulheres presas... Antes era proibida a presença de mulheres presas ou acompanhantes de prisioneiros.

Ruínas do complexo carcerário

Antiga estrada do Cemitério
Dona Francisquinha uma moradora antiga... é uma das pessoas mais simpáticas e agradáveis da ilha e tem muita historia pra contar...

Dona Maria de Gouveia, viúva de Mestre Gouveia, ex-apenado e faroleiro da Ilha Rata...



Botões de fardamento militar e moeda das Colonias Francesas
Vidro antigo de essência


Ruínas do antigo armazém agrícola 
É uma face da ilha, fora do foco das mídias e que estabelece um contato mais próximo com a natureza e o patrimônio histórico e imaterial do arquipélago.